terça-feira, 22 de janeiro de 2013
Se o poeta falar num gato, numa flor,
num vento que anda por descampados e desvios
e nunca chegou à cidade…
se falar numa esquina mal e mal iluminada…
numa antiga sacada… num jogo de dominó…
se falar naqueles obedientes soldadinhos de chumbo que morriam de verdade…
se falar na mão decepada no meio de uma escada
de caracol…
Se não falar em nada
e disser simplesmente tralalá… Que importa?
Todos os poemas são de amor!
Mario Quintana
Silêncio,
eis a tarefa
de todos os gatos.
Poucos sabem perscrutar
(talvez ninguém em plenitude)
o grau de solidão necessária
ao saber auto suficiente
para ser felino e doméstico
em sua tarefa de monge
guardião do inextricável
em quem o homem não percebe
a metafísica natural,
recolhimento
saber
sensualidade
e aceitação.
Artur da Távola
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
Gatos não morrem
Gatos não morrem de verdade:
eles apenas se reintegram
no ronronar da eternidade.
Gatos jamais morrem de fato:
suas almas saem de fininho
atrás de alguma alma de rato.
Gatos não morrem: sua fictícia
morte não passa de uma forma
mais refinada de preguiça.
Gatos não morrem: rumo a um nível
mais alto é que eles, galho a galho,
sobem numa árvore invisível.
Gatos não morrem: mais preciso
— se somem — é dizer que foram
rasgar sofás no paraíso
e dormirão lá, depois do ônus
de sete bem vividas vidas,
seus sete merecidos sonos.
Neslson Ascher
Nos olhos
Nos olhos de meu gato
Há imagens que esperam...
Há sonhos que não desvendo,
Amores que não entendo,
Encantos tantos,
Quantos!
Nos olhos de meu gato
Tem mistério que não tem fim,
Tem solidão,
Agonia, poesia,
Tristeza enfim...
Nos olhos de meu gato
O sonho se separa,
A fantasia grita,
A vida se agita,
O mundo pára...
Nos olhos de meu gato
Eu vi...
Só eu vi...
Nos olhos de meu gato...
Cida Sousa
domingo, 6 de janeiro de 2013
O Gato Curioso
Era uma vez
um gato siamês.
Por ser muito engraçadinho,
é chamado de Gatinho.
Além de carinhoso,
ele é muito curioso.
Nada se pode fazer
que ele não deseje ver.
Se alguém mexe na estante,
está lá no mesmo instante.
se vão consertar a pia,
está ele lá de vigia.
E o resultado é que quando
viu seu dono consertando
a tomada da parede,
meteu-se com tanta sede,
a cheirar tudo que... nhoque!
levou um baita de um choque!
E pensar que ele aprendeu?
Mais fácil aprendia eu!
Mantém-se o mesmo abelhudo
que quer dar conta de tudo.
Ferreira Gullar
Gato que brincas na rua
Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.
Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.
És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.
Fernando Pessoa
Os Gatos
Os amantes a arder, os sábios solitários
Amam de modo igual ena idades graves,
Este orgulho da casa, os fortes gatos suaves,
Pois, bem como eles, são frios e sendentários.
Amigos da volúpia e amigos da ciência,
Buscam a calma e o horror das trevas mais cruéis;
O Érebo os suporia seus fatais corcéis,
Se pudessem mudar orgulho em obediência.
E tomam a sonhas as nobres atitudes
De enorme esfinge a olhar além das soliltudes,
A adormecer num sonho e que jamais termina;
Os seus fecundos rins tem mágicas cintilas,
E partículas de ouro, como areia fina,
Estrelam vagamente as místicas pupilas.
Charles Baudelaire
Tradução de Jamil Almansur Haddad
Le Chats
Les amoureux fervents et les savants austères
Aiment également, dans leur mûre saison,
Les chats puissants et doux, orgueil de la maison,
Qui comme eux sont frileux et comme eux sédentaires.
Amis de la science et de la volupté
Ils cherchent le silence et l'horreur des ténèbres ;
L'Erèbe les eût pris pour ses coursiers funèbres,
S'ils pouvaient au servage incliner leur fierté.
Ils prennent en songeant les nobles attitudes
Des grands sphinx allongés au fond des solitudes,
Qui semblent s'endormir dans un rêve sans fin ;
Leurs reins féconds sont pleins d'étincelles magiques,
Et des parcelles d'or, ainsi qu'un sable fin,
Etoilent vaguement leurs prunelles mystiques.
Charles Baudelaire
A um gato
Não são mais silenciosos os espelhos,
nem mais furtiva a alma aventureira;
és, sob a lua, essa pantera
que nos é permitido avistar de longe.
Por obra indecifrável de um decreto
divino, te procuramos em vão;
mais remoto que o Ganges e o poente,
tua é a solidão, teu o segredo.
Tuas costas aceitam a amorosa
carícia de minha mão. Hás admitido,
desde essa eternidade que já é esquecimento,
o amor da mão receosa.
Em outro tempo estás. És o dono
de um recinto fechado como um sonho.
Jorge Luis Borges
sexta-feira, 4 de janeiro de 2013
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